Dia da Amazônia: GS1 Brasil e PPA celebraram mostrando o papel da rastreabilidade nas cadeias de valor da sociobiodiversidade da Amazônia brasileira

Celebrado em 5 de setembro, o Dia da Amazônia é uma data que chega para chamar a atenção sobre a relevância desse ecossistema vital para o planeta. Afinal, a Amazônia se consagra como a maior floresta tropical do mundo e abriga uma riquíssima biodiversidade, desempenhando um papel crucial na regulação do clima e equilíbrio ambiental em âmbito global.

Diante da relevância dessa data, a GS1 Brasil, em parceria com a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) e com apoio da USAID Brasil, promoveu o debate ‘Rastreabilidade e as cadeias de valor na Amazônia Brasileira’, realizado no escritório da GS1, em São Paulo, e que também pode ser acompanhado online pelos inscritos

O evento ganha relevância diante do importante trabalho desempenhado pela PPA, iniciativa de ação coletiva multissetorial que visa desenvolver e identificar soluções inovadoras e tangíveis para o desenvolvimento sustentável e a conservação da biodiversidade, florestas e recursos naturais da Amazônia brasileira. “Neste ano, nos tornamos uma ONG e, portanto, temos ainda mais robustez para aumentar o impacto da entidade no território”, afirma o diretor executivo da entidade, Augusto Corrêa, que trouxe alguns números importantes que comprovam essa realidade.

Até agora, são 15 iniciativas distribuídas em quase toda a Amazônia Legal, que receberam o apoiou de quase 160 negócios de impacto. São mais de R$ 3 milhões captados em rodadas de investimentos e cerca de 1.317 beneficiários que passaram a aplicar tecnologias e processos aperfeiçoados.

A GS1 Brasil, por sua vez, se tornou membro estratégico da PPA e se posiciona para contribuir com o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 e a serem alcançados até 2030, conforme lembrado pela Diretora Setorial de Sustentabilidade da GS1 Brasil, Maria Eugenia Saldanha, no início das apresentações.

A especialista em Sustentabilidade da GS1 Brasil, Carina Lins, que atuou na organização e moderação deste evento especial sobre o Dia da Amazônia, reforçou esse papel e relevância da entidade na identificação de produtos e, como consequência, na rastreabilidade dos mesmos.

Essa solução, entre tantos outros benefícios, tem ajudado a Amazônia na proteção da biodiversidade, no rastreamento de toda a cadeia de suprimentos, entre outras ações. “Nesse momento, especificamente, passamos pela importante transição dos códigos lineares para os códigos bidimensionais, trazendo mais informações para o consumidor, que tem a oportunidade de saber ainda mais sobre os produtos que consome”, pontua.

 

Amazônia: hora de pensar em oportunidades e desafios

O encontro sobre o Dia da Amazônia foi dividido em dois painéis e, no primeiro deles, o tema central foi “Rastreabilidade: oportunidades e desafios para a cadeia de valor da sociobiodiversidade na Amazônia”. Para essa rodada de conversas, participaram o gerente de engajamento da PPA, Eduardo Rocha, que moderou o painel; a responsável técnica da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica (COOPATRANS)/Cacauway, Hélia Félix; o líder de negócios comunitários e ecossistemas regionais da Conexsus, Pedro Frizo; e a analista sênior do Imaflora/Origens Brasil, Mariana Finotti.

No seu espaço, a especialista da COOPTRANS reforçou o fato de que seus clientes estão cada vez mais preocupados em saber a origem do que é produzido e se as informações são confiáveis. “Precisamos garantir que entregamos produtos de origem no reflorestamento e não do desmatamento”, destaca Hélia, reforçando que entre os grandes desafios que enfrentam estão os de atender as exigências do mercado e agregar vários serviços; além de identificar quais os próximos passos para garantir a rastreabilidade.

Frizo reforçou a necessidade de programas para atrair o setor privado e que a rastreabilidade traz uma dessas dimensões. “Precisamos mostrar que negócios comunitários atendem os critérios de rastreabilidade. Entretanto, para que tenham essas soluções, essas empresas precisam de assessoria para equacionar esse problema; além de recursos financeiros para adequação; e compromissos de parceiros que possam ajudá-las a serem competitivas no mercado”, pondera.

Já Mariana Finotti lembrou que a rastreabilidade garantiu transparência e a comunicação com o consumidor final. “A rastreabilidade garante a origem do produto, permite contar histórias”, diz. Mas, apesar de todo esse valor, ainda é preciso adicionar o preço da rastreabilidade no mercado e fazer com que o pagamento por ela seja justo”, avalia. Para a especialista, outro grande desafio é implementar a rastreabilidade dentro da diversidade da cesta de produtos da Amazônia. “A rastreabilidade do pirarucu é diferente da que deve ser aplicada no mel. Claro que temos um padrão mínimo, mas cada produto tem o seu perfil”, pondera, reforçando que, por si só, a rastreabilidade só gera dados e consegue identificar cadeias, gargalos e reforçar o que é necessário, trazendo dados relevantes inclusive na esfera governamental.

 

Impulsionando a rastreabilidade

O painel final celebrando o Dia da Amazônia trouxe o tema “Como impulsionar a rastreabilidade das cadeias da sociodiversidade na Amazônia”. Neste espaço, participaram Carina Lins, da GS1 Brasil, como moderadora; o diretor da consultoria P&A e coordenador da iniciativa CocoaAction no Brasil, Pedro Ronca; o gerente de suprimentos da gerência de relacionamento e abastecimento da sociobiodiversidade da Natura, Raoni Silva; e o coordenador-geral de Cadeias Produtivas e Biomas no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), João Francisco Maria.

O especialista da CocoaAction, que atua visando a sustentabilidade com foco no produtor de cacau, explicou que 80% do cacau do Brasil hoje é comprado por intermediários, com foco em Bahia e Pará. E também constatou que 95% desta matéria-prima é adquirida por três empresas, que compram dos intermediários. E todas essas empresas estão investindo por rastreabilidade, ação que tem sido puxada, inclusive, pela União Europeia.

“O Brasil é o quinto maior consumidor de chocolate do mundo e ainda há espaço para o crescimento, já que a indústria está sedenta por cacau e por cacau rastreável. E temos o benefício do cacau como vetor de reflorestamento”, acrescenta Ronca, lembrando que o papel das cooperativas é fundamental para estruturar o ambiente produtivo. “Em 2025, a rastreabilidade vai ser condição de acesso ao mercado. Quem não tiver, não vai conseguir vender”, alerta.

Neste painel, Raoni Silva, da Natura, explicou que a empresa começou seu trabalho na sociobiodiversidade em 2000, com a linha Ekos, que transforma ativos amazônicos de perfumação em fragrâncias autorais e bioativos amazônicos em tratamentos de alta performance para o corpo e cabelo.

Mas lembra que a rastreabilidade nos produtos ajuda no planejamento e em como operar toda a cadeia e logística. Contudo, ainda há muitos desafios a serem vencidos. “Precisamos de  códigos de identificação que resistam a sol e chuva, por exemplo. Além disso, temos a cadeia informal, com produtos sem nota fiscal, o que impede o avanço na rastreabilidade. Portanto, é um processo contínuo e que ainda precisa avançar, mas que tem a capacidade de atender a qualidade e demandas exigidas pelo mercado”, conclui Silva.

O representante do MDIC concorda com essa importância, reforçando que a rastreabilidade fortalece a cadeia na bioeconomia, que é uma estratégia importante no crescimento do País. Ele cita uma importante ação governamental nesse sentido, que é Selo Amazônia, desenvolvido pela Secretaria de Economia Verde, que deve ser lançado até o fim do ano, mas que antes passará por uma consulta pública. “Precisamos ter diálogo. Se não tiver colaboração entre os envolvidos, não teremos soluções transversais para evoluir”, finaliza.