Programa que fortalece iniciativas econômicas da floresta fecha mais um ciclo de ações

A NESsT, por meio de seu programa NESsT Amazônia – Incubadora da Floresta, objetiva apoiar iniciativas econômicas da floresta visando aumentar a equidade de gênero nessas organizações e promover renda digna para as populações envolvidas com o desenvolvimento sustentável da região. 

Usina de Beneficiamento de Castanha do Brasil da ASSOAB (Assossiação dos Agropecuários de Baruri) em Beruri, Amazonas, Brasil. 27 de maio de 2022. foto: Bruno Kelly.

Em 2021, a iniciativa passou a atuar com a parceria estratégica da USAID Brasil, Aliança Biodiversity & CIAT, Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) e demais parceiros, apoiando um novo portfólio de negócios socioambientais da Amazônia brasileira e oferecendo suporte técnico e financeiro de, no mínimo, 3 anos.

No último ciclo, o programa avançou significativamente com a conservação da floresta e melhorará os meios de subsistência e a equidade de gênero das comunidades amazônicas. Para isso, seguiu 4 objetivos: fortalecimento operacional e financeiro de negócios socioambientais da floresta; melhorar a renda e os meios de subsistência para populações excluídas da Amazônia; melhorar a visibilidade e a participação das mulheres nos negócios da floresta; melhorar a preservação da floresta.

Conversamos sobre o ano de ações com Cairo Bastos, NESsT Program Manager | Brazil Amazonia Initiative. Confira:

PPA: Quais são as práticas adotadas pelo projeto NESsT Amazônia – Incubadora da Floresta que provaram ser viáveis, eficazes e boas? Você considera que elas podem ser expandidas e aplicáveis em outro contexto, ou para outras iniciativas econômicas da floresta?

Cairo: Em primeiro lugar, citaria o investimento na construção de agroindústrias, como acontece na Cooaprime e ASSOAB. Na Cooaprime, o investimento agregou os cooperados em torno da construção da agroindústria, que está em sua fase final, atraindo a atenção dos produtores locais de açaí, os quais passaram a manifestar interesse de se tornarem cooperados. A construção também chamou a atenção de novos investidores. Com comprovado potencial de produção, esse tipo de investimento que se alinha ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 9, Indústria, Inovação e Infraestrutura, prova também ter a capacidade de atrair investidores e parceiros ainda antes de entrar em funcionamento. Já na ASSOAB, a construção da indústria de produção de óleos chamou atenção de potenciais clientes, permitindo que a Associação realizasse análises técnicas para a produção do óleo de castanha. A instituição foi, ainda, objeto de estudo da Universidade da Pensilvânia, que elaborou um plano de 5 anos com recomendações estratégicas focadas na exportação do óleo para a indústria de cosméticos. O entendimento da NESsT é de que a promoção de agroindustriais é essencial na Amazônia, como forma de fomentar a diversificação das cadeias produtivas dentro dos negócios e a agregação de valor aos produtos da floresta. Esse tipo de iniciativa pode ganhar escala, estimulando em outras regiões os mesmos efeitos multiplicadores.

Em segundo lugar, destacaria o investimento em certificação, como ocorre na Ascampa. Com a certificação orgânica dos produtores de guaraná, os associados conseguiram aumentar os preços, firmar contratos e reduzir sua dependência de uma grande empresa. A Ascampa aumentou de 6 para 35 produtores certificados, com os selos Orgânico Brasil, IBD, USDA e IG, tanto para guaraná, como para os alimentos da agricultura familiar. O aumento de preço verificado no guaraná foi de 80%. Acreditamos que essa iniciativa também tem grande potencial de escala e um efeito multiplicador sobre o valor do produto final.

Ademais, é interessante apontar o investimento na construção de viveiros de mudas, como foi realizado também na Ascampa. Ao construir um viveiro, a associação aumentou sua produção de mudas de guaraná, garantindo igualmente o replantio. Essa iniciativa também tem grande potencial de escala, em que os produtores locais podem ter mais eficiência na produção de mudas com qualidade e de forma sustentável. Por fim, mas não menos importante, o investimento em capital de giro. O capital de giro estruturado em um cooperativa ou associação permite que essas ofereçam valores de compra mais interessantes aos produtores locais, bem como reduzam os custos de transação de seus associados ou cooperados, que não precisarão mais se expor aos trade-offs do mercado local, ou ter o valor de seus produtos subestimados por atravessadores ou indústrias compradoras.

 

PPA: Quais os ensinamentos e conhecimentos que se pode tirar dessas estratégias e procedimentos adotados pela Incubadora? É possível afirmar que a iniciativa deixou um legado positivo para os negócios do portfólio? Em que sentido?

Cairo: O investimento de impacto, aliado ao modelo de incubação NESsT, prova ser norteador de um desenvolvimento sustentável e inclusivo para a Amazônia. Nos contextos locais, os negócios estão inseridos em comunidades vulnerabilizadas por uma série de fatores econômicos e sociais, como: a pressão fundiária e a disputa pela terra, a violência e a falta de governança e participação política, a ausência de educação formal de qualidade, infraestrutura portuária e de escoamento precárias e o forte impacto das mudanças climáticas, dentre outros. Dessa forma, o investimento em pontos chaves da cadeia produtiva, como em bio/ agroindústrias, certificação, viveiros, capital de giro, apresenta efeito multiplicador para a promoção dos negócios da biodiversidade e consequente melhora nos níveis de renda dos beneficiários. A equipe da NESsT espera construir aprendizados conjuntos com os negócios do portfólio e o maior legado é cooperar para a independência desses negócios que crescem em resiliência, sustentabilidade e impacto.

 

PPA: Do seu ponto de vista, quais foram os resultados de maior destaque (ou momentos chave) do último ciclo da parceria?

Time NESsT: O caso de maior sucesso avaliado pelo time NESsT foi o caso da Ascampa, com a certificação conseguiram aumentar os preços em até 80%, firmar contratos e reduzir sua dependência de uma grande empresa.

 

PPA: E o que poderia ter funcionado melhor, quais foram os desafios? Há algum ponto de atenção ou melhoria para as fases que ainda virão?

Time NESsT: De maneira geral, os obstáculos enfrentados são de ordem logística e de comunicação. Esses obstáculos fazem com que todos os nossos prazos devam ser revistos. Em geral, a seleção de negócios na metodologia NESsT dura de 4 a 6 meses e, nesse projeto, alguns processos chegaram a demorar 12 meses. Ou seja, após 1 ano de trabalho, o processo de incubação para a maioria das empresas está apenas começando.

Outro obstáculo frequente é a carência de equipes estruturadas e remuneradas nas organizações. Esse fato faz com que, muitas vezes, a agenda de incubação da NESsT não seja sempre uma prioridade e outras demandas, viagens ou eventos acabam atrapalhando o ritmo do trabalho de desenvolvimento dos negócios. A enorme demanda das lideranças das organizações impede que consigam se dedicar às pautas levantadas pela NESsT. As diretoras e diretores das organizações passam bastante tempo dedicadas à atividades de campo, por vezes ficando semanas sem contato, não havendo outras pessoas para se debruçar nos trabalhos propostos por nós.

Por fim, em função do aumento dos preços das passagens aéreas e nosso limitado orçamento, que já foi revisto para o ano 2, não pudemos visitar as organizações com a frequência que seria necessária para alcance mais rápido de nossas metas e objetivos. Além disso, é notória a baixa conectividade nas áreas que atuamos, sendo que frequentemente temos impedimentos na realização de conversas online ou pelo telefone, dificultando a implementação plena de nossa incubação.

 

PPA: Por fim, qual é a importância dos parceiros estratégicos nesse arranjo? Como eles têm contribuído para o sucesso da iniciativa?

Time NESsT: A maior parte dos negócios da sociobiodiversidade carecem de parceiros de confiança, para quem possam relatar e discutir estratégias, esforços e desafios, recebendo direção e apoio para construção de consensos e soluções. A parceria entre NESsT e PPA é um exemplo de concertação que vem demonstrando resultados importantes ao somar experiências de dois times bastante diversos, garantindo níveis de confiabilidade e estabelecendo checagens e o aprimoramento contínuo dos procedimentos de incubação de negócios com reuniões constantes. A experiência de parceria PPA e NESsT demonstra que as organizações com foco na Amazônia, ao somarem esforços, podem fazer ainda mais para contribuir com o crescimento dos negócios, permitindo que esses conheçam um crescimento sustentável e consistente.